Conselho de Presidentes dos Tribunais discute uso de Inteligência Artificial na Justiça

Publicado em 04 de agosto de 2025

Conselho de Presidentes dos Tribunais discute uso de Inteligência Artificial na Justiça

Publicado em 04 de agosto de 2025

Governança da Inteligência Artificial (IA), Democracia Digital e proposta de criação de uma Rede de Comunicação dos Tribunais de Justiça foram temas debatidos durante a programação do XVI Encontro do Conselho de Presidentes dos Tribunais de Justiça do Brasil (Consepre), nessa quinta-feira (31/7), à tarde, no Hotel Luzeiros, em São Luís.

A iniciativa – que acontece até o dia 2/8 – reúne magistradas e magistrados de todo o Brasil para discutir os desafios e o futuro do Judiciário estadual.

GOVERNANÇA DA INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL

Durante a programação do Consepre, a conselheira Daniela Madeira (CNJ), ao explanar sobre Governança da Inteligência Artificial no Poder Judiciário, ressaltou a importância do uso da IA pelos tribunais, enumerou desafios e alertou para riscos no momento da contratação da ferramenta.

“Todos os tribunais vêm utilizando a inteligência artificial para melhorar a eficiência, a prestação jurisdicional através da otimização do trabalho do magistrado na execução de tarefas repetitivas e também para gerir o acúmulo de processos que temos. No entanto, é preciso observarmos os riscos na hora da contratação da ferramenta. Além disso, a IA deve respeitar direitos fundamentais e não pode valorar circunstâncias penais”, pontuou.

Dentre os principais desafios para uso de IA apontados pela conselheira, destacam-se a segurança e privacidade, a regulação e conformidade, limitação de recursos, inter-operabilidade, dentre outros. Dentre os benefícios, estão: maior agilidade, redução do tempo de tramitação, otimização de recursos e menor custo operacional.

Segundo Pesquisa sobre IA no Judiciário em 2024, apresentada por Daniela Madeira, dos 92 tribunais e conselhos participantes do levantamento, 63% desenvolveram projeto de IA só em 2024. Dos órgãos que ainda não usam IA, 81% possuem interesse em utilizar IA generativa.

Durante sua apresentação, Daniela Madeira citou a Resolução n.º 615/2025 do CNJ editada neste ano para regulamentar o uso da ferramenta no âmbito da Justiça. O documento estabelece diretrizes para uso da IA no Judiciário baseado em três aspectos: transparência, auditabilidade e supervisão humana.

DEMOCRACIA DIGITAL

Já os ministros Joel Ilan Paciornick e Reynaldo Soares da Fonseca (STJ) discutiram sobre “Poder Judiciário em Democracia Digital: Desafios e Soluções” no evento no Hotel Luzeiros.

Em sua apresentação, o ministro Joel Ilan ressaltou o ritmo frenético de mudanças no mundo digital, as novas modalidades de criminalidade e a ‘marcha’ desenvolvida para a atualização da ordem jurídica.

“O nosso desafio é justamente o surgimento desses novos paradigmas, que atingem a soberania nacional e a ordem jurídica. Essa metamorfose global e esse redesenho das modalidades de criminalidade exigem mudanças. Esse desafio cresce em proporções inimagináveis, já que em breve, a maioria dos crimes serão praticados por meio do dispositivo digital. Esse território virtual não conhece fronteiras, por isso, temos que mudar a nossa forma de pensar e de enfrentar a aplicação do direito”, pontuou.

Ao abordar sobre o tema, o ministro Reynaldo Soares (foto acima) destacou o novo perfil do Poder Judiciário brasileiro, mais próximo da população, e o papel dos presidentes dos tribunais aos discutirem democracia digital durante o evento.

“É de suma importância discutirmos a democracia digital, a era virtual, o constitucionalismo digital, para resgatarmos o papel do Poder Judiciário como garantidor dos direitos fundamentais. Nós mudamos o perfil da Justiça. Saímos do Judiciário cartorário, burocrático e nos aproximamos da sociedade através dos juizados especiais, estaduais e federais, e ao mesmo tempo nos deparamos com as novas tecnologias, que exigem de nós um novo modelo de constitucionalismo que respeite a liberdade, a igualdade e a construção de uma sociedade fraterna”, frisou.

O ministro ainda acrescentou que o Judiciário precisa reunir e ponderar valores, utilizando os instrumentos virtuais em benefício da juridição, do cidadão e da cidadã, do ser humano, seja na saúde, na habitação, na agricultura, em qualquer ramo de política pública ou nas relações privadas.

REDE DE COMUNICAÇÃO 

Ainda durante a programação do Consepre, a Rede de Comunicação dos Tribunais de Justiça (Redecom) foi oficialmente apresentada à/os presidentes dos Tribunais de Justiça do Brasil. A exposição foi conduzida por Débora Diniz, representante do Comitê de Comunicação da Justiça Estadual, que destacou a proposta de atuação articulada entre os 27 Tribunais, com foco no fortalecimento institucional e na aproximação do Judiciário com a população.

A iniciativa prevê a realização de campanhas nacionais sobre temas previamente definidos, com cronograma unificado e identidade visual comum. A primeira mobilização será lançada em agosto, com foco no enfrentamento à violência doméstica e de gênero, e culminará em uma campanha conjunta inédita pelos 20 anos da Lei Maria da Penha, em 2026.

“Trata-se de uma articulação inédita no âmbito da Justiça Estadual, que potencializa o impacto das ações locais e constrói uma narrativa nacional sobre os serviços e compromissos do Judiciário com a cidadania. Com a Redecom, os Tribunais passam a se reconhecer como parte de um ecossistema de comunicação colaborativo e plural”, afirmou Débora Diniz.

Também participou da apresentação o jornalista Francis Silvy do Consepre e do Tribunal de Justiça de Santa Catarina (TJSC).

UMA SÓ MAGISTRATURA

O presidente do STJ, ministro Antônio Herman e Benjamin, em seu discurso, destacou a necessidade de se realizar gestões coordenadas, de forma efetiva, no âmbito dos tribunais, a exemplo do Superior Tribunal de Justiça, e manifestou preocupação com ataques à magistratura.

“No STJ, nós estamos em um processo de desimperialização. Afinal, uma instituição que tem poder no nome não precisa ser imperial. A magistratura brasileira é uma só, o que há é uma divisão por conta de um quadro federativo. A esmagadora maioria das questões jurídicas e das teses interessam às duas magistraturas. Portanto, o incômodo que nós causamos naqueles que possuem o poder para chancelar as suas decisões pessoais é nas duas magistraturas e nós estamos vendo todo esse ataque à magistratura, à independência e a sua integridade”, concluiu.

Durante o encerramento da programação do segundo dia do Consepre em São Luís, o presidente do TJMA, desembargador Froz Sobrinho (na foto acima, falando ao microfone), parafraseando o padre Antônio Vieira, avaliou positivamente a realização do evento em São Luís destacando o legado deixado pelos ministros Antônio Herman e Benjamin (presidente do STJ) e Luís Felipe Salomão (vice-presidente do STJ).

“Os passos se passam e as pegadas ficam. Vossas excelências já deixaram essas pegadas na história do Judiciário nacional. Tivemos  o privilégio de ter o ministro Salomão como corregedor. E ele nos ensinou a cogestão. O ministro Benjamin possui esse mesmo perfil de gestão eficiente, com um discurso bem próximo da gente, o que facilita o nosso diálogo. Então, meu sentimento hoje é só de gratidão por receber todos vocês, de todo o país, aqui em São Luís”, ressaltou.

Ao final das atividades, na noite de quinta-feira (31/7), foi exibido um vídeo publicitário sobre a próxima edição do Consepre que acontecerá em Salvador (BA), no mês de outubro deste ano.

SOBRE O XVI CONSEPRE

O XVI Consepre reúne presidentes dos Tribunais de Justiça de todo o país para debater temas como sustentabilidade, democracia digital, governança da inteligência artificial e proteção dos direitos humanos. A abertura oficial foi realizada na quarta-feira (30), no Teatro Arthur Azevedo, com a conferência magna do ministro Flávio Dino (STF) sobre “Jurisdição Ambiental e o Supremo Tribunal Federal”.

A programação inclui reuniões técnicas, conferências e a elaboração da Carta Lençóis Maranhenses, documento que consolidará os principais encaminhamentos do encontro.

*Fonte: Portal do Poder Judiciário do Estado do Maranhão*

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